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O mito da Reforma

Todos nós temos nossas memórias do trabalho. As mudanças são tantas e tão intensas que até podemos acreditar que vivemos várias vidas. Eu, particularmente, tenho a minha quota de existências dentro desta empresa. Posso dizer que fiz muita coisa. Trabalhei no segmento pessoa física e também na pessoa jurídica, atendi serviços ao trabalhador e também governo. Trabalhei até mesmo com a contabilidade do banco, fui caixa e fui gerente. Dessa minha experiência, trago algumas informações que são importantes agora para demonstrar as contradições do discurso do governo, em especial me refiro a reforma da previdência.

A maior parte dos empregados sabe que as informações fornecidas pelo governo são mentirosas. Não é verdade que sem a reforma da previdência o Brasil quebra! Eu escuto esta história de que a Previdência está falida a quase vinte anos, desde quando eu entrei no curso de direito da Universidade Federal do Amapá. Já naquela época o debate era intenso. Os professores de direito previdenciário já diziam que a reforma da previdência era uma tremenda lorota, “A ilusão da reforma da previdência”. E mesmo assim, reformar esse negócio foi algo que eu vi pelo menos umas três vezes nesta minha vida de acúmulo de existências. Eu me acostumei a não pensar. Porque do jeito de anda, eu me acomodei com a ideia de que não existirá aposentadoria pra mim. Há 10 anos atrás eu já tinha essa impressão.

Eu já trabalhava na Caixa, e pegava o ônibus ao final do dia, usando minha calça e minha camisa social amarrotadas. Parecia que eu tinha sido mastigado. Eu dormia sentado no ônibus. Nos dias que eu ia, os professores se ausentavam, e quando eu faltava, eles apareciam. Era um tremendo azar!

Na época o Professor de Direito do Trabalho tinha deixado de lançar uma nota pra mim, e eu me enrolei todo com os pré-requisitos para outras disciplinas. Houve matérias que fiz mais de uma vez assim. Não fez muita diferença, eu as aprendi mal mesmo assim.

No mesmo período aprendi que a previdência tem a natureza de um seguro. Os colegas de faculdade, que na sua maioria tinham experiência com banco, talvez não entendessem a natureza desta alegação. Mesmo no banco, entre os colegas de profissão, duvido que todos tenham noção do que o seguro significa. A venda geralmente é somente uma meta que a empresa tem, e vende-los faz parte de nossos objetivos para garantir os resultados da empresa. De forma imediata, representa a pontuação no ranking das agências no estado, e do estado no Brasil. Define quem continua e quem deixa de ser gerente, na maior parte das vezes.

Por isso, mesmo entre os bancários, não existe uma compreensão muito nítida de que o seguro é uma proteção, e que é vantajoso porque o seguro é mais barato que o risco. No caso, qual é o risco? Envelhecer, adoecer, ficar inválido. O custo da previdência é menor do que o valor que teríamos que desembolsar quando envelhecemos ou adoecemos, assim como o preço do seguro de um carro é mais barato que o risco de perda do bem por um roubo ou um acidente.

Mas a lógica coletiva, que faz sentido para negócios privados, como os planos de saúde ou o seguro de carro, por passe de mágica, segundo o governo, deixa ter sentido quando tratamos de assuntos públicos, como previdência, ou saúde pública. A diferença é que quando pagamos um plano de saúde, existe alguém que lucra com isso. Se a lógica não funcionasse, não haveria tantas operadoras de planos de saúde, ou seguradoras. Sem dúvida, é um negócio lucrativo. Os próprios bancos são uma mina de dinheiro. Faça tempo bom, faça tempo ruim, os lucros são garantidos.

A razão porque sou contra a reforma da previdência é que a previdência custa menos, não para o governo, mas para você e pra mim. E pra que funcione, você e eu precisamos participar de sua gestão e das decisões que dizem respeito a nós. Caso precisemos trabalhar de 12 a 16 horas por dia para guardarmos dinheiro para a velhice, não vamos ter tempo para administrar os assuntos que são importantes, que dizem respeito ao nosso futuro e a nossa cidade, que é a política, a relação nossa com o poder. Assim como não teremos garantia que poderemos realmente usufruir do dinheiro que acumulamos. Várias pessoas no mundo já perderam suas economias para investidores inescrupulosos. Parece aquela história do pai que trabalha demais para garantir um estudo melhor para o filho, e por causa disso, não tem tempo de ver o caderno do menino a noite ou ir na escola conversar com os professores. Todo o trabalho dele pode ir simplesmente para o ralo.

Mais vantajoso é cuidar para termos uma sociedade mais justa e mais solidária.

Por Alessandro Batista – Diretor Jurídico

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