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‘Vacinação da maioria da população só no segundo semestre de 2022’, diz ex-ministro da Saúde

Arthur Chioro participou de live sobre a pandemia organizada pela Contraf-CUT

Com 3.158 mortes nas últimas 24 horas e se aproximando dos 300 mil óbitos causados pela Covid-19, o Brasil busca mais do que nunca políticas de saúde. Essa preocupação foi a pauta, na noite desta terça-feira (23), do debate sobre a situação do combate ao novo coronavírus no Brasil. A live realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) contou com a participação do ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro, e da presidenta da Confederação e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, Juvandia Moreira.

O ex-ministro traçou um quadro grave para o país nesta pandemia e disse que as projeções que pesquisadores de saúde fazem é que o Brasil só conseguirá vacinar 70% da meta em agosto ou setembro do ano que vem. “A boa é que os dados indicam que os idosos já vacinados, com mais de 90 anos, tiveram uma brutal redução de casos graves, internações e óbitos. A vacina é segura e funciona”, afirmou Chioro, diante de bancárias e bancários de vários pontos do país que assistiram à live.

Categoria bancária

A presidenta da Contraf-CUT abriu o debate fazendo um breve resumo de um ano de lutas da categoria para combater a doença. “Foram mais de 30 rodadas de negociação desde o começo da pandemia. Colocamos 300 mil pessoas em teletrabalho. Cobramos uma série de medidas. Primero foi colocar todo mundo do grupo de risco em casa. Negociamos controle da entrada dos clientes nas agências, que são pequenas. Negociamos a redução do horário de atendimento, álcool gel nas agências, proteção de acrílico, redução das metas. As pessoas estão muito tensas e apreensivas. Mas nossa negociação ajudou a salvar muitas vidas”, explicou Juvandia.

Arthur Chioro destacou que a categoria bancária conseguiu conquistas que até hoje muitos setores profissionais do pais não conquistaram. Mas alertou: “É uma doença terrível. que mata quatro de cada cinco que vão para a UTI. Dos que sobrevivem, uma parte continuará coexistindo com sequelas e problemas de saúde. Além disso, diagnósticos de câncer, diabetes e outras doenças graves vão se avolumar, sem falar dos transtornos mentais, que crescem bastante”.

Medidas necessárias

O ex-ministro apresentou medidas necessárias para combater a Covid-19. Começou citando o maior grau de isolamento possível. Ressaltou que médicos e enfermeiros se contaminam mais no teclado do computador do trabalho do que quando estão com máscaras no atendimento aos doentes. Citou também o contágio no transporte coletivo. “É quase impossível não se expor quando se está em um ônibus ou trem lotado”, falou.

Para Chioro, a naturalização da tragédia é fruto de gravíssimos erros sanitários do governo, que deixou de tomar as decisões fundamentais. Outro fator para o agravamento da Covid-19 é a desigualdade social e também ressaltou o papel genocida do presidente da República, que é deliberadamente um modo de governar.

Estados

O secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, Mauro Salles, também participou do debate. Ele lembrou que em Porto Alegre, cidade onde mora, houve mais de 2 mil mortes pela Covid-19 em sete dias. “Os médicos escolhem quem morre e quem vive. O que aconteceu em Manaus foi um aviso que não aprendemos. Mas, não podemos desistir e por isso temos nesta quarta-feira (24) o lockdown”, disse Mauro Salles.

Também participaram bancários e bancárias de outros estados atingidos pela pandemia. Rosângela Lorenzetti, secretária-geral do Sindicato dos Bancários de Araraquara (SP) e diretora da Fetec São Paulo, deu o depoimento sobre sua cidade, que teve de decretar o lockdown diante do agravamento do contágio no começo do ano. “Me sinto a luz no fim do túnel. Existe solução, só precisa de vontade política de fazer”, afirmou Rosângela, ao se referir à decisão do prefeito da cidade, Edinho Silva (PT), que decretou um lockdown rigoroso por 10 dias. Apesar da oposição de alguns setores da cidade, ele conseguiu reduzir em 40% o número de mortes em em 57% os casos de contágio. “Um lockdown bem feito, dá certo” afirmou.

Tatiana Oliveira, presidenta do Sindicato dos Bancários do Pará, apresentou um quadro bem diferente. O Estado registrou 400 mil casos de Covid-19 e cerca de 10 mil mortes. “A categoria está aflita neste momento. No Brasil, a cada dez pessoas que vão para a UTI, seis morrem. Aqui na Região Norte o índice de mortes sobe para oito. Tem casos de famílias inteiras que morreram aqui no Estado”, contou.

Wellington Trindade, dirigente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, relatou que em seu Estado já se contabiliza mais de 12 mil mortes por Covid-19. “Hoje já morreram 65 pessoas, isso em um dia, no Estado. No centro do Recife, a cada três ou quatro minutos, a gente vê ambulâncias passando com a sirene ligada. O governo do Estado proíbe banho de mar, usar parques e andar no calçadão, mas o resto está liberado”, falou Wellington. O dirigente bancário também destacou que se Contraf-CUT não tivesse trabalhado de forma incansável e dura com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), a categoria não teria máscaras, luvas e álcool gel para proteção. “Mas, nossa luta ainda não terminou”, ressaltou.

Cavalo de pau

Ao final da live, Chioro lembrou que, em março de 2020, um estudo do Imperial College de Londres fez uma simulação de óbitos para todos os países, com e sem isolamento social. “A projeção para o Brasil, sem medidas de proteção é para termos um milhão e 100 mil óbitos. Se fizéssemos a lição de casa, ficaríamos em 44 mil óbitos. Fizemos tudo errado. Mesmo se mudarmos o governo, ainda assim será necessário fazer com rapidez uma unidade nacional. Precisamos dar um cavalo de pau na forma de governar. Tínhamos que negociar para comprar o excedente de vacina dos outros países”, afirmou o ex-ministro da Saúde.

A presidenta da Contraf-CUT criticou o atual governo. “O mais revoltante é saber que a maioria das mortes poderia ser evitada. isso nos deixa indignados. Desde o começo, vemos a ausência total da coordenação. Infelizmente temos esse governo que está incomodado de ser chamado de genocida, mas não tem outra classificação”, disse Juvandia Moreira.

CORONAVÍRUS, COVID, PANDEMIA, SAÚDE DO TRABALHADOR

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