Conselheiro deliberativo eleito da Cassi, Alberto Júnior mostra em artigo como o assédio pode levar às doenças mentais
Alberto Alves Júnior
Sempre que ficamos sabendo de alguém que se suicidou, nos envolvemos em sentimentos de tristeza e angústia. E quanto mais próximos das vítimas, piores são esses sentimentos, tais como culpa, impotência e frustração.
O suicídio não está tão longe quanto parece. Cerca de 17% dos brasileiros já pensaram, em algum momento da vida, em se suicidar. Essas pessoas geralmente demonstram, de alguma forma, sinais de alteração de comportamento, sendo que 100% dos suicídios decorrem de doenças mentais não diagnosticadas e tratadas incorretamente.
O universo do trabalho tem grande impacto nos cerca de 14 mil suicídios que acontecem todos os anos. O INSS informa que, em 2021, mais de 200 mil pessoas se afastaram por transtornos mentais, como depressão, distúrbios emocionais e Alzheimer. Em 2022, esse número cresceu para 210 mil.
Mas o intuito deste texto é conversar com os colegas bancários. Quando estive na função de Gerente Geral da Unidade CASSI do Distrito Federal, iniciamos uma pesquisa com psiquiatras e psicólogos por meio da qual chegamos a questões fundamentais do problema em nosso meio: como nós mesmos percebemos que precisamos de ajuda? Como reconhecemos que um colega também precisa? Como fazer para que essas pessoas sejam encaminhadas para o lugar certo? Como fazer com que os profissionais de saúde saibam reconhecer uma pessoa em sofrimento psíquico e saber encaminhá-la para o tratamento correto?.
Identificamos, por exemplo, que nossos colegas não conseguem perceber alterações no próprio comportamento e muito menos no do colega, seja porque não tenha interesse ou porque esteja muito distante dele, mesmo sentando-se ao lado.
E aqui vou abrir um parêntese para dar uma opinião particular sobre como enxergo nosso ambiente de trabalho. Ele é gratificante para grande parte dos bancários e extremamente desagradável para muitos outros (talvez a maioria). Seria preciso que os departamentos de gestão de pessoas conseguissem conciliar a produção com a satisfação no trabalho. Hoje, a satisfação no trabalho só parece ser possível se você alcançar a produção estipulada.
Percebo que, cada vez mais, o esforço individual está se sobrepondo ao coletivo e isso tem afastado um colega do outro. A solidariedade e a empatia vêm sendo substituídas pela disputa e a rivalidade. O desejo irracional de alcançar as metas muitas vezes leva alguns a comportamentos e meios de produção incompatíveis com o ambiente social saudável. Falo aqui de assédio, de desvio de caráter, de meios de produção ilícitos, de acordos espúrios etc.
Hoje, também percebo em muitos a sensação de injustiça ao não serem premiados por algum programa de desempenho individual, afinal esses programas estão cada vez menos transparentes e com critérios mais difíceis de se entender.
A ausência de um ambiente de trabalho sadio, muitas vezes somado ao superendividamento, à ausência de lazer, à falta de amparo e à intolerância de familiares e de amigos, nos leva a decepções, frustrações, desânimo etc. E, finalmente, ao sofrimento psíquico e aos transtornos mentais.
Aconselharia aos bancos darem mais atenção aos resultados do PCMSO e a custearem pesquisas comportamentais que pudessem lhes dar clareza sobre os efeitos desses modelos de produção/remuneração (reconhecimento) e encontrar meios de se reduzir os impactos negativos sobre a saúde do trabalhador.
Encerrando o parêntese e retornando ao tema principal, é importante entender que as doenças mentais ainda são estigmatizadas pela sociedade. No ambiente de trabalho, esse estigma é ainda maior, seja por vergonha dos colegas ou por medo de ser preterido pela empresa, caso se exponha.
Em razão disso, a maioria dos colegas tem procurado um serviço de emergência e saído de lá com uma receita para uso de medicamentos tarja preta, com a falsa impressão de que esse tratamento será suficiente para curá-lo.
Muitos deles, ou de seus familiares, são levados à internação por terem iniciado o tratamento tardiamente ou por tê-lo realizado erroneamente. Da mesma maneira que erram no tratamento inicial, acabam por se internarem em centros inadequados, o que os leva a um ciclo de aparente melhora e de agravamento que irá durar anos e lhes custar alto, financeiramente e socialmente falando.
No caso do Banco do Brasil, a maioria dos colegas deixa de procurar a CASSI por entender que o Banco poderia ter acesso às informações do seu prontuário, por não entender que o seu tratamento se sobrepõe à relação patrão-empregado, estando submetido ao sigilo médico-paciente, ética e legalmente protegido.
A CASSI possui uma porta de entrada de saúde mental, e seus profissionais de saúde estão preparados para identificar pessoas com transtornos e encaminhá-las para os melhores tratamentos. Ainda sinto falta de algo mais amplo nesse segmento, principalmente em relação à REDE REFERENCIADA, mas acredito que, com a expansão da Estratégia de Saúde da Família, já aprovada pelo Conselho Deliberativo, isso deva acontecer.
Bom lembrar que não somente nossos colegas, mas também seus familiares podem ser vítimas dessas doenças e afetar a todos, por isso a ESF sempre será o melhor caminho.
Mas, no final, a pergunta é: conhecendo melhor esse cenário, é possível evitar que pessoas com transtornos mentais se suicidem? A resposta é sim, e a campanha SETEMBRO AMARELO tem o papel de alertá-lo exatamente para isso.
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Alberto Alves Junior é Conselheiro Deliberativo da Cassi eleito pelos funcionários do Banco do Brasil
(Publicado originalmente no site do Seeb Brasília)
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